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Porto Digital reúne iniciativas tecnológicas para cidades mais sustentáveis

Também conhecido como Vale do Silício brasileiro, o Porto Digital funciona por meio do modelo triple helix, ou modelo da hélice tríplice de inovação, que é um conjunto de interações entre universidades, empresas e governos para promover o desenvolvimento econômico e social. O local abriga projetos nas áreas de produção de software, serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e economia criativa, mas também iniciativas no setor de tecnologias urbanas, que ajudam a promover ações de sustentabilidade e melhoria do bem-estar nas cidades. 

Uma das iniciativas é o Smartlet, espaço de convivência que alia tecnologia e sustentabilidade. Ele tem bancadas, bancos, wi-fi de alta velocidade, tomadas para notebook, carregador por aproximação e bicicletário – tudo gratuito para a população. Toda a estrutura do espaço é revestida por madeira plástica reciclada. O Smartlet tem sensores de monitoramento para passar, para os visitantes, informações sobre chuva e qualidade do ar. É autossustentável energeticamente, porque utiliza energia solar, gerada por meio de placas solares. Essa solução urbana sustentável foi criada por duas startups que nasceram no Porto Digital: Hephaenergy, focada em mobiliário urbano inteligente, e Videoporto Mídia, de desenvolvimento de mídias. 

Ambiente vivo

O Smartlet é mantido por ativações de marcas patrocinadoras. A primeira estrutura foi implantada em novembro de 2022, na região central de Recife, e tem capacidade para abrigar até 20 pessoas; ocupa um espaço equivalente a duas vagas de estacionamento público. O objetivo do mobiliário é integrar tecnologia a um espaço de convivência urbana agradável, a fim de conectar as pessoas à cidade, e elas entre si, de um jeito criativo.

Em março de 2023, foi a vez de Maceió (AL) receber um Smartlet. Até o final de 2023, a ideia é que o projeto esteja em 50 pontos de, pelo menos, cinco capitais brasileiras. Em entrevista ao Propmark, Fernando Carvalho, sócio-diretor da Videoporto, explica que o Smartlet é “resultado de observações e pesquisas detalhadas sobre que cidades que queremos para o futuro”.

“Estamos falando de um ambiente vivo, capaz de promover integração entre pessoas e oferecer serviços gratuitos de qualidade para a sociedade”, afirmou. 

O Smartlet integra um conjunto de projetos de empresas de tecnologia e startups incubados dentro do E.I.T.A! Labs, iniciativa desenvolvida e coordenada pela Secretaria de Transformação Digital, pela Empresa Municipal de Informática (Emprel) e pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Recife. 

Casa de nômade 

Outra startup alocada no Porto Digital brasileiro usa tecnologia para aproximar pessoas fisicamente, transformando a experiência de hospedagem e de moradia. É a pernambucana Yolo Coliving, que trabalha com o conceito de comunidade e espaços comuns compartilhados, o que vai na contramão da ideia de se possuir uma casa própria. A empresa anunciou, em 2023, o Yolo Coliving Porto Digital, seu primeiro empreendimento de hospedagem compartilhada, que receberá investimento de R$ 55 milhões e funcionará, também, na região central de Recife.

Pioneiro no Nordeste, o empreendimento tem uma plataforma tecnológica própria de gestão integrada e se encaixa no modelo Living as a Service, ou moradia como serviço, comum nos Estados Unidos, na China e em países europeus. O contrato de aluguel é mais flexível do que o modelo tradicional. Os custos costumam ser menores e o prazo de estadia pode ser mensal, semanal ou até diário. Outra vantagem é ter itens e serviços incluídos no contrato: mobília, internet, limpeza, lavanderia, cozinha compartilhada, restaurante, espaço de coworking, salas de reunião, miniauditório, bicicletas e carros compartilhados, além de equipamentos tradicionais como piscina, academia de ginástica, terraço, churrasqueira, salão de jogos. 

O principal público-alvo desse tipo de moradia compartilhada é formado pelos chamados nômades digitais, profissionais que trabalham on-line e não precisam estar fisicamente em um escritório para desenvolver suas atividades. Geralmente, são pessoas que optam por um estilo de vida itinerante que reúne trabalho e lazer, o que é viabilizado pelo uso da internet e de outras ferramentas tecnológicas.

A Yolo é uma proptech, versão curta para a expressão “property technology”, ou “tecnologia de propriedade”, em português. As proptechs são empresas inovadoras que utilizam a tecnologia da informação para otimizar a negociação de imóveis em processos de aluguel, compra, venda e gestão.

Dinamicidade

A teoria do triple helix em que se baseia o Porto Digital foi criada na década de 1990, por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff, da Universidade de Stanford (Estados Unidos). Cada setor – universidade, empresa e governo – é representado por um círculo (hélice) com sobreposição, representando sinergia e interações entre as três estruturas, para estabelecer novos parâmetros de inovação. 

Quando foi fundado, no ano 2000, o Porto Digital era formado por três empresas e contava com 46 pessoas. Atualmente são mais de 350 empresas, organizações de fomento e órgãos de governos, onde atuam cerca de 17 mil profissionais. Os empreendimentos, que são de vários portes – de startups a multinacionais –, geraram um faturamento anual de mais de R$ 4,75 bilhões em 2022. Além de ter importância econômica, o Porto Digital ajudou a melhorar o ambiente urbano e a revitalizar o centro histórico recifense. A região, antes degradada e de pouca influência na economia local, passou por uma transformação acelerada em termos urbanísticos, imobiliários e de recuperação do patrimônio histórico edificado. Desde a fundação do parque tecnológico, já foram restaurados mais de 138 mil metros quadrados de imóveis históricos, o que contribuiu para atividades de turismo, graças aos edifícios históricos recuperados pelo Porto Digital. 

Em outubro de 2023, a cidade de Aveiro, em Portugal, recebeu uma extensão do Porto Digital, o Porto Digital Europa, hub com objetivo de internacionalizar startups e empresas de TI brasileiras e criar uma ponte de acesso de empresas portuguesas de TI ao mercado brasileiro. Nesta primeira etapa, o Porto Digital Europa funciona com 4 empresas brasileiras embarcadas e outras 5 em fase de negociação.

Em artigo no portal Caos Planejado, o especialista em transformação digital e inovação em governo, Marcos Ricardo dos Santos, ressaltou que “o Porto Digital parece ter conseguido cumprir ambos os objetivos a que se propôs: fomentar o desenvolvimento econômico, por meio da geração de negócios, emprego e renda, e o desenvolvimento do território, por meio da recuperação de imóveis históricos e do aumento da dinamicidade da região”. 

Projetos com o modelo triple helix do Porto Digital – e a instalação e o crescimento do próprio porto de ideias – têm ajudado a levar mais vida, cores e movimento a uma região urbana repleta de desafios, como é o caso do centro de Recife, contribuindo também para fortalecer conexões humanas. E isso pode inspirar outras cidades do Brasil e do mundo na missão de tornar as cidades mais sustentáveis e bem planejadas, melhorando a vida das pessoas que nela habitam – ou as que estão só de passagem, como os nômades digitais.

Fonte: Habitability